segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

AÇÃO POÉTICA

Sem saber por que passou o tempo
E a trajetória dessa louca história
Que só ao vento deve

Porque tudo passa
E mesmo o que pára um dia passa
Sem explicações
Sem dizer a quem ficou se o que fez foi bom ou ruim
Apenas segue adiante
Como a linguagem fria das horas
Nos ponteiros do relógio
Um impassível evento

O homem
Esse perplexo acontecimento
Diz e desdiz
Faz e desfaz
Goza e sente dor
E é algo inexplicável também
Mas ao menos temos o direito de pensar

Há os que pensam mais
Há os que pensam menos
E avançamos com poucas realidades permanentes

Falamos muito
Para preencher o tempo

Quase não dizemos nada

Sobrevivemos a terríveis fenômenos

Insistimos

Queremos sempre escalar pirâmides
Mas erguemos poucas delas
E só alguns chegam ao topo

É sempre pelo poder de uma teimosia que algo se faz

Mas, feliz é aquele que encontra recompensa no ato de continuar fazendo
Aquilo que decidiu fazer por ser incoerente
Mas não completamente ao ponto de não ter juízo
Foi apenas algo que aprendeu
E assim foi resolvido que por ser o mais humano a fazer deveria ser feito

É cansativo ter que parar
Se sabemos que depois terá de haver um recomeço
Por isto torna-se confortável a continuidade

A mente
Esse caldeirão de informações

Queremos ser muito
Mas temos de aprender a nos contentar com um pouco que se repete

Relativamente falando,
Se tudo obedece à ordem do universo,
Por que se preocupar com o resultado das ações?
Naturalmente desde que seja algo inofensivo, é preciso que fique bem claro.

Escolher é a capacidade de usar o tempo para aquilo que mais nos convém.
E quando escolhemos algo parece que isto agride uma outra opção que foi deixada de lado.
Em termos afetivos isto é causa de dor, mas não deve ser motivo de culpa.

Percebo a análise como o motivo de um grande cansaço,
Mas ao que parece isto não pode ser dissociado da condição humana.

A nossa mente é frágil
É quase incapaz de concentrar a atenção sobre um determinado aspecto
Por um prolongado tempo

A nossa mente esvoaça
Muda de direção
E seguir assim é a maneira que escolheu para experimentar um pouco mais do infinito

Vivemos
Lagartos na beira do pântano
Esperando um inseto para nosso deleite

Ainda enquanto falamos tentando dizer algo mais
Isso é a nossa própria descoberta se fazendo com qualquer palavra que o acaso traz

Para preencher o tempo com essa maneira de enxergar o mundo
Esperando que isto seja a parte de um imenso monólogo que será descoberto por algum arqueólogo do futuro

Nossas palavras são vidros que se quebram
São gotas que caem

Nossas palavras são a roupa rasgada e jogada fora
Ditas apenas para cumprir o papel de estar no espaço em branco
Ou para enfeitar o silêncio

Nossas palavras são ritmos insanos
São abominações de uma espécie confusa

Estou começando a mudar agora para a pergunta sobre a utilidade da inutilidade

Poesia é esse algo inútil

É esse fazer para estar ocupado

Para estar no vazio da mente
Com pose de algo fenomenal

Poesia não é nada
Ou melhor poesia é o nada feito em palavras
Mas ao menos
De forma doentia isto me diverte

Neste entremeio
Com o olhar para o alto
Com cara de indecifrável filósofo
É possível sentir alguma forma de importância

Achar significado é algo que vale a pena
Em nossas vidas estranhas
Em nossas combinações de combinações de pensamentos soltos

Achar uma excitação qualquer em um ato de criar
E neste sentido é uma vontade forte que não nos abandona

Mesmo o mais estúpido dos homens cria e recria a toda hora sua própria história
Então a arte é indissociável do existir

E o existir é indissociável de si mesmo
Como um emaranhado
Como o ninho mais bem montado do mais engenhoso pássaro

São visões da existência
Que nos permitem sonhar
Ou nos alegrarmos com uma bobagem
Mas isto é a melhor parte em tudo

Toda empresa humana
Toda ação
Visa apenas esta oportunidade para sentir uma alegria breve
E a felicidade é uma construção tecida com bilhões de incontáveis e minúsculas alegrias entrelaçadas a todo momento

Depois de esvaziar-se de toda dor
Depois de esgotar todas as possibilidades de sofrimento

Depois de finalmente haver decidido não mais se lamentar por todas as ações
Que o conduziram à perplexidade
É possível ficar quieto
Sem que isto seja algo torturante

A questão é que, há tempos, em que as moléculas da felicidade estão dispersas no éter
E portanto dela não se tem consciência
Mas em outras épocas a estrutura dessa percepção é de intervalos muito pequenos entre as centelhas de gozo
Ou porque o universo achatou esses intervalos ao redor do indivíduo
Ou porque o indivíduo expandiu-se de forma anômala, ocupando uma porção maior do cosmos.

Há uma vontade de estabelecer um ponto de mutação
Um marco entre algo que não havia sido feito e alguma ação de que se possa recordar com aprovação

Um núcleo

Um buraco negro feito de satisfação por uma descoberta

Uma epifania

O ser humano aprendeu a gostar de momentos que ficam registrados no tempo
Em obras feitas de idéias, cor, forma e som ou todos estes elementos combinados

A mente assume muitos comportamentos inesperados
E tentamos nos adequar a isto, traçar uma linha reta entre todas as variantes do espírito
Mas isto nem sempre é possível
E é preciso dançar conforme a música

Contudo, há uma necessidade de estabelecer um padrão de força
Como o predomínio de uma vontade maior sobre os pequenos desejos
Sobre as oscilações do querer e do não querer
Tentando viver de forma positiva
E livre de toda dualidade

Sendo não o rio
Mas o barco que cruza o rio
Ou melhor
Sendo a vontade do barqueiro que com força leva o barco pelo rio

Sendo não o farol, mas o lume
A única decisão
O ser único que move a decisão pela senda da ação

E é possível se perguntar qual a finalidade disto
E a resposta será a própria indagação

A finalidade é indagar sobre os modos como é possível prosseguir
E se essa sucessão de atos é feita de forma coerente, ou às cegas

Se a razão conquista seu império
E triunfa doravante, de forma incondicional,
Numa seqüência de pequenas batalhas contra a estupidez

Se o indivíduo é capaz de evoluir
Afirmando sua predominância sobre o todo
Ou se é um mero fantoche de suas próprias entranhas

É nisto que vale a pena acreditar

E por algo assim será possível uma transformação completa

Pois essa transformação será o fruto de uma conclusão
De que é possível ser o determinante de todos os movimentos posteriores
E não apenas a conseqüência de forças externas

*****

Não é possível ser superior a nada
É possível apenas estar inserido numa atitude

É POSSÍVEL estar determinado a prosseguir fazendo algo
E nem sempre haverá coerência nesta ação
Mas se isto gera prazer e não há culpa
Então continuará acontecendo
Porque o indivíduo será atraído pela força desta continuidade

*******

A contradição é uma forma de explorar o que é possível
É dar-se conta de que a antítese pode suceder a síntese

********

Para tentar conter a hemorragia de insanidades
Que na mente cria-se a partir do momento em que não há uma ocupação correta

Para que na exploração do conteúdo
Seja possível abrir espaço
Conquistando o domínio sobre uma área segura do pensamento

Mesmo que neste caso o surrealismo seja a fonte do raciocínio
Isto será eficaz para o lado esquerdo pois o manterá focado
Numa ação simples e constante
Que evitará ações contraproducentes

**********

O objeto não foi localizado
E a ação continuou a partir do zero
Quando descobri que todos os downloads possíveis estavam armazenados em meu espírito
Seria só acessar a pasta e fazer uma coletânea de todas as informações
De forma aleatória e sem a preocupação de manter algum sinal de coerência
Apenas para manter o ritmo.

Seria útil também trabalhar em vários arquivos ao mesmo tempo
Pois caso um fosse bloqueado pelas tolices do senso crítico bastaria continuar em outro
E prosseguir abrindo arquivos no caso de surgirem novas infecções

A linha mestra assim seria mantida por este argumento
O artifício seria suficiente para ocupar a mente numa impressionante fluidez de pensamento
Pois não há nada mais estimulante que uma página em branco

******

Todas as torturas passam pelo contexto da memória
Todas as inutilidades passam pelo lugar-comum da falta do que fazer

Os vícios são a incapacidade de se manter ocupado
Com a atenção necessária ao que o espírito exige para o momento

Não ter nenhum receio quanto ao modo como se processa a existência
É uma forma racional de não-suicídio que pode ser extremamente eficiente

Afinal, manter a alma ocupada naquilo que mais lhe agrada
De modo produtivo e constante
Mesmo que pareça abstrato
Pode ser afinal um recurso artístico capaz de contribuir de alguma forma

Penso que o grande mal ocorre quando os espíritos são completamente consumidos pelo bafo da inutilidade


*************

Então não havendo com que se preocupar
É possível seguir adiante
Como um barco de papel num riacho de água cristalina
E se o papel for dissolvido pela água bastará usar uma nova folha e colocar outro barquinho na água

E se o barquinho desaparece ao longe
Finalidade maior de todo barquinho de papel
Bastará fazer uma nova dobradura
E assim sucessivamente

*********

Este é o ponto
Esta é a virada
O desabrochar de toda experiência

Isto é o processo capaz de transformar um autômato humano em um tipo de Pablo Neruda, Juan Ramon Jimenez, Vicente Huidobro, Fernando Pessoa, Paul Eluard, Walt Whitman, William Blacke
Até que a morte o leve

***************

Depois que as necessidades físicas foram satisfeitas
O ser orientou-se para as tradicionais rotas de inteligência auto-investigada
De forma tranqüila
Mantendo o foco para o desvendar dos mistérios do processo
Onde sempre ao fim do arco-íris há o pote de ouro
A cenoura que à frente impulsiona o jumento

Animal de caprichos imprevisíveis
O corpo de um descendente de macacos permanece atento aos seus mecanismos auto-reguladores
A fome diz a hora de comer
A sede diz a hora de beber
E o pensamento é a reação das forças do universo a uma lacuna matematicamente previsível

****

A carne
Meio podre de tanta mágoa
Desligando-se dos ossos
Aos poucos
No movimento suave dos anos que nos tornam velhos
A cada dia


Sentado diante do painel do abismo
Com os olhos grudados no teclado
Como um extraterrestre à frente de uma nave intergaláctica

A sondar o momento
Como se tudo se fizesse noite
E tateando alguma porta
Procurasse um feixe de luz

*********


Acariciando ao colo uma pedra de cem quilos
Agitado
Pensando e voar mas percebendo o peso do impossível

Resta-me apenas o desejo de sacudir da mente o lastro
Pronto para amplificar revoluções

Sinalizando
Para que uma onda eletromagnética
Com a composição perfeita de um rock’n roll
Destrave de todas as travas
Desbloqueie de todos os blocos

A fim de que isto aconteça
Com a força insolente
Da eterna juventude

*****

Não me venham com a pretensão do perfeito

**********

Esta é a bolha
Feita de micropartículas do ilimitado
A bolha do tempo
Onde a gente se sente por dentro

Força que transforma
Revirando tudo
Processando as consciências
Caleidoscópica reviravolta

Esta é a experiência
Não queiramos nisto estar acomodados
Porque a essência disto
É o movimento
Que internamente desconcerta
Apurando a mente

**************

Toda vez que paramos
Uma nova onda se forma
E encobre o que antes parecia certo
E já não é o mesmo

Fica cada vez mais complexo
Elaborando novos contextos
E vai voando sobre todas as ilhas
Com a lente grande angular
De um formidável milhão ================= captando outros sons
Não tem o certo nem o errado nesse camundongo em flor
Sua asa
Partida como a cauda de um elefante inspirando o vento da áfrica

Sua deusa
Seu dinossauro secreto tem algo de armagedom

É a folia do pensamento em ação
Querendo ser
Querendo luz para viver
Sem sentir falta de algo
Por haver chegado à convicção do planejamento secreto do OURO

Suas longas odes
Suas metamorfoses

Ele viu e afundou no mais desorientado sentido de querer
Deixa que algo vai surgir desse amálgama
É preciso ficar para ver é preciso insistir em uma nova assimilação
Finalmente alucinado
Finalmente desconectado do que o impedia de prosseguir sonhando
Gritando um silêncio feito de respiração
Arregimentando o exército da ação

É O action painting das palavras
Suas
Ou moscas como potes de coisas que foram inventadas

Sentindo isto
Desde que seja possível sentir
O plano prático
Apenas para prosseguir

É a opção de quem queria ser
Por tentar de forma harmônica merecer o próximo segundo

Já cansado de elocubrações teóricas infindáveis reagindo ao vento
A maior parte do tempo
E totalmente satisfeito por haver furado o véu
As palavras de episódio
Servindo para despistar a superficialidade de sua argumentação

Está em todo o mar
Em toda face
Está no sentido dessa alegoria
Está na razão eclipsando-se para deixar o indivíduo livre para ser
Montado no cavalo
Partindo sobre a vastidão desse deserto azul
Límpido
Sereno como o olho da medusa
Encontrado
Realizando mais um capítulo dessa fornicação
Já sentindo o aviso que diz ao porteiro para entreabir a visão
Ou bem rir
Junto dos muitos despenhadeiros que se formam quando alguém pensa em sair de algum lugar
Ou de algum tempo
Ou de um sentimento contraproducente de culpa infundada
Que vai sendo gerado por todos os possíveis problemas humanos

Nós somos livres,
Mas estamos presos ao que pensamos que somos
Ao passado em que pensamos que erramos
Ou aos mais incríveis momentos da história do rock de todos os tempos

Isto já passou
Isto ainda nos emociona
Isto tem o dom de fazer luzir a azeitona
Isto dá um cansaço de correr de si mesmo

E pare então para um descanso à sombra da árvore
Sem medo de pensar com carinho naquela que fizeste sofrer
Não se preocupe
Solte
Deixe que vá sem preocupações
Nada se vai
Tudo está unido no todo
Tudo é a mesma conexão com tudo que absurdamente existe

São todos uma só mente capaz de seguir em muitas direções ao mesmo tempo

Uma vez libertos
Os sons se espalham serenamente de forma desorganizada
São reações
Nós somos reações

Para tudo existe união e unidade
Para o tempo existe sempre momento e eternidade
O erro é apenas de observação
O erro é enxergar eternidade no momento
E momento na eternidade

Que importaria se não pudesses ver se ao menos tiveste a chance de fazer parte
Ainda assim quero te dizer que continuarás a perceber
Porque tua percepção foi o possível rompendo o cerco do impossível, para se fazer visível

Um telefone toca
As pancadas do homem que bate na porta são interrompidas por gritos

O chacal com a língua de fora

O lobisomem artisticamente concebido é real como a obra literária
Também existe numa subcategoria lendária
Existe como conceito

Existe como o teto que te protege do céu
Existe como o temor de que as necessidades te devorem
Enquanto se permite essa existência
Mas ela será transferida para outra entidade assim que te livrares dela
Assim continuará existindo

Homens para quem a força deste destino foi criado
Homens para quem a raça se tornou uma celebração do que se pode criar
Porque a reunião é poder
E isto não nos será negado

Alguns fogos selvagens continuarão brotando
Depois que a cidade for soterrada
E um pequeno inseto
Sorrateiramente
Sairá do buraco

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Meus olhos abertos
Vão captando a essência desse conteúdo chamado existir
Vão implorando por um pouco mais de cor
E a forma como a beleza insiste em se redefinir

Raízes e asas ao mesmo tempo afundam e flutuam
Para tentar descobrir novos aspectos curiosos disto

E refletem a suave espontaneidade do coração voraz
Que sonda as criaturas

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Seria possível
Escrever doces odes repletas de sentimento
Com versos perfeitos e métrica precisa

Seria possível
Passar o tempo esculpindo poemas
Comparando palavras e rimas

Mas não para mim
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